Irei fazer uma breve introdução sobre uma previsão que me ocorreu. E não, não se trata de previsões sobre numerologia ou qualquer vertente esotérica. Refere-se à perspectiva de um mundo conectado e um universo totalmente digital, o qual foi demonstrado pelo escritor William Ford Gibson, chamado também de “profeta noir” do cyberpunk, um subgênero da ficção científica.
Gibson cunhou o termo “ciberespaço”, em seu conto “Burning Chrome” e posteriormente popularizou o conceito em seu romance de estreia, e sua obra mais conhecida, Neuromancer (1984), primeiro volume da aclamada trilogia Sprawl. Prevendo o ciberespaço, Gibson criou uma iconografia para a era da informação antes da onipresença da internet na década de 1990.
A previsão de um mundo altamente conectado, utilizando tecnologias de inteligência artificial, algoritmos inteligentes que executam funções específicas, levou a criação do tão chamado “universo digital”. Como podemos ver, a maioria nem sabe que essas máquinas trabalham 24 horas por dia para manter o seu conforto acessível na palma de sua mão, proporcionando a dopamina necessária para se tornar um servo e mestre, in casu, o usuário e a redes sociais, dai inicia-se o propósito deste tema.
A advocacia por ser uma profissão tradicional que existe há décadas sofreu mudanças de forma abrupta devido ao enfrentamento da pandemia. Essa mudança inesperada criou uma nova geração de profissionais que utilizam a tecnologia para ajudar nas demandas processuais e manter o mundo jurídico operando.
Criou-se o que Gibson já anunciava em seus romances, o mundo cyberpunk em terrae brasilis. Em meio ao caos, todas as pessoas, e salientando os profissionais do Direito, buscam a sobrevivência através da alta demanda tecnológica. Em um cada vez mais em colapso, tanto na parte de socialização, contato humano, a não preservação da natureza, o feio e grotesco substituindo as paisagens nas cidades, juntando o cinza e colorido das luzes de uma metrópole conectada 24 horas por dia, em seu universo digital, instaurado o caos, criando-se o cyberpunk.
A maioria que forma em Direito e conquistam sua aprovação no exame da OAB, creio que vem com um pensamento muito além do que a realidade é. Dependem apenas de investimento em infraestrutura e conhecimento, esquecendo-se que o mundo digital é a bola da vez, e às vezes, deixando de lado as formas de networking, se distanciando da realidade cada vez mais dura das grandes cidades, um universo cyber punk do mundo jurídico, em meio ao caos. Uma batalha de tentar fazer seu nome e seu trabalho serem reconhecidos seja no mundo físico ou no mundo digital.
Porém, ao invés de se engajarem como profissionais e proporcionar a divulgação de seu trabalho na advocacia, deixam como “segunda opção”, tornando-se “líderes” de um grupo que os chamam de “Influencer”. Uma pessoa no qual tem o poder de influenciar uma quantidade relevante de pessoas, com o intuito de ter lucro e visibilidade, tornando-se o servo das mídias. No fim aquele trabalho e caminho percorrido rumo ao longo dos anos, o tempo investido, se perde, sendo o seu mestre as mídias, e o falso poder do conhecimento, pois quando se passa a terceirizar o saber, torna-se escravo da sua própria mediocridade. A síndrome do participante do “reality show” foi ativada e toda aquela luta foi perdida para se tornar mais um adepto de expor a sua vida como se fosse algo incrível, algo que nós (seguidores) nunca iremos chegar.
O universo cyberpunk foi realmente criado, o servo e seu mestre condicionam as pessoas a largarem tudo o que se propôs fazer, pois a necessidade de se manter “vivo”, quer dizer, se manter conectado, é mais forte. Por sempre estar querendo mostrar a sua existência perante aos outros, e até mesmo angariar seguidores, e não mais uma carteira de clientes, e se tornar um profissional de múltiplas habilidades, acaba-se fazendo nada direito, inclusive terceirizar a advocacia e depois se inscrever num programa ai.
“Verus mundus praevalet fortis”.
“O mundo real prevalece aos fortes”.
POST SCRIPTUM
O metaverso está ai para demonstrar o quão longe foi preditiva a visão do escritor William Gibson, e o quão sombrio e incerto será o nosso futuro, pois o caos de hoje. O comprometimento em “seguir” apenas para obter uma audiência inerte, reflete a falta de interesse de profissionais do direito em tornarem-se celebridades, deixando de lado algo histórico e real, como a advocacia, tornando-se escravo do mestre dos “likes”.
Leitura recomendada: Neuromancer: 1
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