Mefistófeles, faculdades caça-níqueis e o conhecimento?

Com o surto do “novo corona vírus” qualquer meio de produção, educação, conhecimento, aprendizado em geral, sofreu uma mudança considerável no seu modus operandi por ocorrência dos fenômenos da “natureza”.

Destarte, como efeito dominó, também as universidades e seus respectivos cursos se transformaram em “café-com-leite”. Apenas os cursos na área da saúde permanecem realizando suas aulas de forma presencial, o restante somente por EAD.

Fazendo esta pequena introdução, esta mudança tem um impacto bem significativo nas faculdades ditas “caça níqueis” no qual as quais gostam de fazer do aluno um simples futuro bacharelado com um aprendizado medíocre e infrutífero. Os professores parecem mais preocupados em militar suas ideias na ferramenta do milênio (redes sociais) e expor com bravura o que acham ao invés de dizer o que as coisas são de fato, (estimulando o estudante a pensar e decidir por conta própria).

A cada dia vemos que a relativização do conhecimento e da realidade se torna uma arma poderosa. Profissionais de diversas áreas se limitam ao seu mister, tornando-se um ser apenas operacional. No Direito, chamam-se de “operadores do direito”. Em minha ótica, esta nomenclatura idealiza uma espécie de profissional incrustado em apenas saber das leis, como se sua atividade fosse uma linha de produção em massa de pessoas automatizadas em fazer apenas um arrolado das leis, decorar os códigos.

Indo ao encontro do que Weber falava sobre o aparelho ideológico estatal, tais profissionais se assemelham a seres preocupados tão somente em reproduzir peças de substituição para manter a roda do capitalismo girando.

Isso é apenas a consequência de como tudo em terrae brasilis se adapta sempre para o pior lado , que eu chamo de “capitalismo tóxico”, aquele que invade todos os setores e áreas, sempre terceirizando custos em prol de um alto lucro, dando em troca serviços ruins pois, dentro de cinco anos, estas pessoas estarão no mercado de trabalho com diversos adversários vindos de faculdades de renome, tendo o dobro de experiência na praxis jurídica, uma vez que a universidade dita tradicional, propõe ao aluno o cotidiano e aprofundamento devidamente qualificado do direito (em outras áreas idem), o que é de suma importância para a formação de um profissional bem sucedido no mercado de trabalho.

Essa história de que o “aluno faz a faculdade” deveras tem um lado utópico pois, no mundo real, ter o mínimo do que a instituição é obrigada a lhe dar – ensino de qualidade – faz toda a diferença. Aqueles que não têm um respaldo, orientação e conhecimento sólido, como terão a visão necessária para estudar de forma apartada de sua faculdade? Se o intuito de frequentar um curso é aprender pela universidade, esse pensamento se torna paradoxal: uma coisa é querer ser um outsider (fora da curva), outra coisa é não ter a chance de aprender aquilo que é dever da instituição oferecer, ou seja, o conteúdo de qualidade e não aulas aleatórias, com 10 minutos de conteúdo, sem qualquer exercício prático, e o restante do tempo ocupado por falas contra o governo, ou divagando sobre situações aleatórias.

A modalidade de EAD é muito mais nociva ao aprendizado, do que a presencial, por haver mil maneiras de se perder o foco, ainda mais para aqueles que trabalham em home office.

Ademais, quando chegar o momento da verdade, onde a luta pela sobrevivência no competitivo mercado profissional, faz com o profissional nessa situação alarmante do ensino sucateado, “incorpore” o espírito do personagem Fausto de Goethe que com o propósito de adquirir mais conhecimento e recuperar o tempo perdido, vendeu sua alma para Mefistófeles (o diabo) em busca de conhecimento do grande mundo e conseguir a glória e o reconhecimento.

Pelo caminho que estamos trilhando, Mefistófeles terá de se multiplicar para atender este mundo que se esvai a cada dia, levando junto a sapiência.

“Barba crescit caput nescit”.

“A barba cresce, mas a cabeça não fica mais sábia”.

Post Scriptum

Não existe grau zero do conhecimento, de algum lugar vem a sua base, justamente porque o mundo em que vivemos nos obriga a segmentar as coisas.

Leitura recomendada

1- https://www.oab.org.br/noticia/11306/editorial-a-oab-e-o-combate-aos-cursos-caca-niqueis

2 –https://www.conjur.com.br/2013-abr-25/senso-incomum-iatrogenia-direito-quando-tudo-vira-grau-zero

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Rafael Souza

Bacharel em Direito pela Faculdade Das Américas (FAM). Membro colaborador da Comissão dos Acadêmicos de Direito da 116a Subseção Jabaquara- Saúde da OAB/SP. Membro Assistente da Comissāo de Direito Constitucional e Filosofia e Argumentaçāo da 116a Subseção Jabaquara- Saúde da OAB/SP. Membro assistente do IGOAI (International Group of Artificial Intelligence) Colunista do Blog Justalks.

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